Sebastião Araújo Lima (Bastião) (1922- 1989) foi empreendedor quando esta palavra não possuía a dimensão existente em nossos dias. Agricultor, artesão e empresário, recebeu o título de “Rei da Selaria”, sendo responsável pela valorização equalificação dos arreios das montarias, principal meio de transporte nordestino da época.

A música Asa Branca, feita em parceria com Humberto Teixeira, gravada por Luiz Gonzaga no dia 3 de março de 1947, era, entre outras, a preferida para embalar as festas de forró por ele promovidas após o retorno de suas frequentes viagens ao Ceará e Pernambuco para compra de material. Naquela época, os discos eram de cera, tocados em vitrolas e os arrasta-pés iluminados por candeeiros a gás (petromax).

Sebastião Araújo Lima (1922) nasceu quando o sol se escondia no horizonte do lugarejo Lagoa do Coco, pertencente ao distrito de Brejo dos Paraibano, município de Pastos Bons, região preamazônica do Maranhão, no dia 20 de janeiro de 1922. Filho de Domingos Soriano Lima e Ricarda Assunção de Araújo, o mestre Bastião, tornouse conhecido por seu oficio de artesão, aprendido com o Mestre Silvestre, da cidade de Mirador. Sua mãe, Ricarda Assunção de Araújo, dedicava-se às atividades domésticas e na criação dos filhos.

Bastião casou-se em 20 de janeiro de 1946 com Maria Carvalho de Souza – ela, natural da localidade Brejo do Anastácio, distrito de Porto Seguro, município de Nova Iorque, no Maranhão – no distrito de
Brejo Paraibano, durante os festejos do padroeiro São Sebastião. O casal teve 12 filhos, sendo 10 nascidos em Brejo Paraibano e os dois últimos, em Floriano, Piauí, sendo os únicos que vieram ao mundo em uma unidade hospitalar, pois os demais nasceram pelas mãos das parteiras práticas Maria Castor e Dona Ana Parteira.

BASTIÃO ARAÚJO, MARIA CARVALHO E OS 4 PRIMEIROS FILHOS: CLODOMIR, CLODIONOR, CLARICE E CLIDEMAR

Sebastião Araújo, desde criança trabalhava na agricultura, nas comunidades Lagoa do Coco e Serra Grande, porém não se conformava com as dificuldades por que passavam os agricultores familiares. Aos 22 anos, conseguiu um dinheiro emprestado e foi para Mirador aprender a profissão de artesão em couro – selaria e arreios para animais. Quando retornou para o Brejo dos Paraibano, com a convicção de que, o discípulo deve superar o mestre, não se restringiu exclusivamente a selaria. Com uma visão de futuro muito aguçada, deixou de ser uma referência apenas na arte de apetrechos da montaria e começou também a fabricar calçados de couro, estendendo-se, em pouco tempo, à sapataria, de fabricação própria e de referência na região, associada a uma loja comercial em produtos de sua expertise. Tornou-se um dos maiores empregadores formais da época com um contingente de mais de 20 trabalhadores. No entanto, com o crescimento da demanda, as cidades circunvizinhas já não possuíam mais capacidade de fornecer os insumos para sua indústria de calçados, o que o forçou a deslocar-se para as cidades de Crato no Ceará, Caruaru e Recife em Pernambuco.

Ao final da década de 1950, quando da industrialização do Brasil e da implantação das primeiras fábricas de automóveis no país, Sebastião Araújo adquire um Chevrolet Brasil 1958 para distribuição da
produção agrícola local pois Brejo dos Paraibanos possuia, à época, usinas de arroz, babaçu, algodão e uma feira aos sábados de grande destaque regional e forte comercialização. Concomitantemente, começa a transportar passageiros.

Considerando o Brejo dos Paraibanos pequeno para seus sonhos e montado no Chevrolet Brasil 1958, resolve transferir-se para Brasília, visando as muitas oportunidades que surgiriam com a construção da capital do Brasil. Entretanto, isto não ocorreu por que Maria Carvalho, sua mulher, não concordou e o convenceu a desistir, alegando que não queria se afastar da família.

BASTIÃO E MARIA

Como empreendedor e conciliador que era, tinha também uma visão de VIDA PACÍFICA em família, no trabalho e em seus relacionamentos pessoais com o seu ditado: “O pior acordo ainda é melhor, do
que a melhor briga”. Todos ganhavam e, assim agindo, não participou de partidos políticos no Brejo dos Paraibanos, tinha amigos e compadres dos dois ou mais lados dos adversários tendo, inclusive, em alguns momentos, atuado como mediador para pacificar conflitos pessoais, familiares e políticos.

Os sonhos de alçar novos voos, todavia, não haviam morrido. Em 1961, convenceu a mulher e os filhos a transferirem-se para Floriano, no Piauí. O argumento utilizado desta vez foi definitivamente
irrecusável: colocar os filhos para estudar, fazer o Ensino Médio. Nesta cidade, ele ficou com a família durante os anos de 1961 a 1971. Nesta época iniciava-se a construção da barragem hidrelétrica da Boa Esperança, no Rio Parnaiba, em Guadalupe, Piauí. Com o aguçado senso de oportunidade, vislumbrou a oportunidade de montar um sistema de transporte para o deslocamento dos trabalhadores. A experiência adquirida com seu Chevrolet Brasil serviu para estruturar uma frota de ônibus na linha Floriano – Guadalupe.

BASTIAO COM O NETO LEONARDO

No início da década de 70, sofreu uma crise econômica que o fez retomar sua atividade de comerciante com a distribuição agrícola, desta vez em Imperatriz, Maranhão, onde estabeleceu domicílio em 1971. Durante três anos permaneceu com a família nesta próspera cidade. Sempre com o objetivo de dar a seus filhos uma melhor educação, em dezembro de 1973, enviou a família para Recife, onde um dos filhos mais velhos já se encontrava concluindo um curso universitário. Bastião, no entanto, permaneceu por mais algum tempo naquela cidade que foi de grande importância para a retomada de seus negócios.

Em 1975 transferiu-se definitivamente para Recife, onde deu continuidade às suas atividades comerciais.

Em 1980, mais uma vez, o destino o faz passar por momentos difíceis, ao perder um filho de apenas 27 anos de idade que cursava o 6° ano de medicina.

Em 29 de maio de 1984, outro golpe duro: perde sua esposa e companheira de batalha, Senhora Maria Carvalho de Araújo com apenas 59 anos de idade.

Sebastião Araújo Lima, homem forte e trabalhador, que nunca frequentou uma escola, aprendeu a ler e escrever com o mestre Salu, na Lagoa do Coco; sua esposa, dona Maria Carvalho de Araújo, que
também não frequentou uma escola, aprendeu com a escola da vida e com o mestre que lhe ensinou a ler e escrever, sabiam que, o maior patrimônio que os pais podem legar aos filhos é uma boa educação.

Juntos, tinham um sonho: FORMAR OS FILHOS. E eles conseguiram! Sete, dos dez filhos que criaram, foram para a universidade enquanto que os outros fizeram uma outra formação.
Em 23 de outubro de 1989, Sebastião Araújo nos deixou precocemente, mas com a certeza do dever cumprido. Ele e sua esposa encontram-se sepultados em Recife-PE.
Hoje os descendentes de Sebastião Araújo Lima e Maria Carvalho de Araújo são: 8 filhos, 16 netos e 11 bisnetos. A maioria permanece morando no estado de Pernambuco, especialmente em Recife.

Por: Raimundo Ari Furtado – Amigo